ATA DA QUADRAGÉSIMA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA TERCEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 07.11.1991.

 


Aos sete dias do mês de novembro do ano de mil novecentos e noventa e um reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Quadragésima Primeira Sessão Solene da Terceira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às dezessete horas e vinte e quatro minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Solene, destinada a homenagear o Aeroclube do Rio Grande do Sul, pelos relevantes serviços prestados à comunidade porto-alegrense, e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalidades presentes. Compuseram a Mesa: Vereador Omar Ferri, 2º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre e autor do Requerimento referente à presente Sessão; Senhor Miron Maciel, Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul; Senhora Vera Lúcia Maciel, esposa do Senhor Miron Maciel; Senhora Raila Silveira, esposa do Cônsul de Portugal; Senhor Carrion Junior, Deputado Federal; Senhor Nelio Letti, Desembargador; Senhor Balduíno Manica, Desembargador; Senhora Regina Manica, esposa do Senhor Balduíno Manica; Senhor José Sarmento, Presidente da Federação dos Aeroclubes do Rio Grande do Sul; Senhor Cláudio Jotz, Diretor Vice-Presidente da Aeromot; Senhor Aloísio José Rodrigues, representando o Serviço Regional de Aviação Civil do Ministério da Aeronáutica; Senhor Milton Renani, representando o Departamento Aeroviário do Estado; Senhor Vitor Carli, único acrobata do Rio Grande do Sul; Doutor Plínio Paulo Bing; Senhor Marco Oliveira, representante regional da Volkswagen; Vereador Clóvis Ilgenfritz, 3º Secretário da Casa. A seguir, o Senhor Presidente concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Vereador Vicente Dutra, em nome da Bancada do PDS, classificou como relevantes os serviços prestados pelo Aeroclube do Rio Grande do Sul à Cidade e ao Estado, expressando sua satisfação de pronunciar-se nesta ocasião e reivindicando pela dotação de verbas públicas para incremento dessa atividade. O Vereador Clóvis Ilgenfritz, em nome da Bancada do PT, referindo experiência pessoal na área de aviação civil, congratulou-se com a Entidade homenageada pelos importantes serviços sempre prestados à comunidade rio-grandense. E o Vereador Omar Ferri, em nome das Bancadas do PDT, PTB, PL e PMDB, ressaltou a qualificação técnica, moral e ética que o nível de ensino do Aeroclube do Rio Grande do Sul garante a seus alunos, manifestando sua alegria por ter sido o autor da presente homenagem. Em continuidade, o Senhor Presidente concedeu a palavra ao Desembargador Nelio Letti, que, em nome do Aeroclube do Rio Grande do Sul, agradeceu a homenagem prestada pela Casa, e ao Deputado Federal Carrion Junior, que cumprimentou os integrantes do Aeroclube do Rio Grande do Sul, falando da atuação desse Clube no Estado. Após, foi apresentado vídeo sobre o Aeroclube do Rio Grande do Sul, o Senhor Presidente agradeceu a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os trabalhos às dezoito horas e quarenta minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Vereador Omar Ferri e secretariados pelo Vereador Clóvis Ilgenfritz. Do que eu, Clóvis Ilgenfritz, 3º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelos Senhores Presidente e 1º Secretário.

 

 


O SR. PRESIDENTE (Omar Ferri): Senhoras, senhores, boa tarde. Vamos, neste momento, dar início a esta solenidade, destinada a homenagear o Aeroclube do Rio Grande do Sul pelos relevantes serviços prestados à comunidade porto-alegrense.

Eu sou Vice-Presidente da Casa, hoje no exercício da Presidência, pois o Ver. Antonio Hohlfeldt está na Assembléia Legislativa, numa reunião que trata do Mercosul; o 1º Vice-Presidente é o Ver. Ferronato, que dentro em breve estará presente, também. Serão oradores na tarde de hoje o Ver. Clóvis Ilgenfritz, pela Bancada do PT; o Ver. Vicente Dutra, pela Bancada do PDS; o Ver. Artur Zanella, pela Bancada do PFL; eu, que sou o Presidente em exercício, vou falar pelas Bancadas do PDT, do PTB, do PL e do PMDB. Finalmente, fará uso da palavra, além do Desembargador Nério Letti, que falará em nome da entidade homenageada, o nosso Deputado Federal Carrion Junior.

Passo a palavra ao Exmo Ver. Vicente Dutra, que falará pelo Partido Democrático Social.

 

O SR. VICENTE DUTRA: Exmo Sr. Ver. Omar Ferri, Vice-Presidente desta Casa – hoje presidindo a Sessão Solene destinada a homenagear o Aeroclube do Rio Grande do Sul requerida pelo próprio Ver. Omar Ferri –, demais integrantes da Mesa, tenho a honra de, em nome do Partido Democrático Social, cumprimentar os dirigentes do Aeroclube do Estado do Rio Grande do Sul. A nossa total integração à iniciativa do Ver. Omar Ferri em registrar, nesta tarde, uma homenagem ao Aeroclube do Rio Grande do Sul, uma entidade que tem prestado relevantes serviços à aeronáutica, ao esporte aeronáutico, às atividades aeronáuticas, fundada em 1923 e que, ao longo desse período, vem formando uma plêiade de bons profissionais no campo da aeronáutica.

Eu não poderia deixar de registrar, nesta homenagem, já que sempre fui um aficionado da aviação, embora um piloto frustrado, porque nunca consegui tirar brevê – também nunca tentei – mas pratiquei pára-quedismo, onde fiz grandes amigos. Hoje, encontro aqui De Carli, que fez muita coisa, muitas atividades no ar, que foi um paradigma para todos os pára-quedistas aqui do Estado; também encontro aqui o Maciel, grande companheiro, voamos muitas vezes.

Então, em nome do PDS, quero dizer da imensa satisfação, e vejo aqui no relatório das atividades do nosso Aeroclube do Rio Grande do Sul o progresso e o desenvolvimento, hoje considerado o aeroclube padrão do Brasil. Isso é uma honra para nós aqui do Estado e, particularmente, para Porto Alegre. Eu, como porto-alegrense, nascido em Porto Alegre, e como autoridade em Porto Alegre, por ser Vereador, sinto-me muito orgulhoso com essa informação de que o Aeroclube do Rio Grande do Sul é o melhor do Brasil. Vejo aqui a preocupação com a segurança dos vôos, que é uma determinante da sua Administração: cerca de 367 mil pousos e decolagens, com pouquíssimos acidentes. Com a formação de 1.762 alunos nos onze anos, é a maior formadora de pilotos do Brasil. Então, isso tudo nos dá a dimensão, a importância do nosso Aeroclube do Rio Grande do Sul.

Eu me recordo do Aeroclube, que ele era lá em Canoas, muitas vezes estivemos lá, e sempre encontrávamos a mão estendida e a compreensão dos nossos pilotos amigos. E hoje, mais do que nunca, são atividades aeronáuticas que assumem uma importância muito grande sobre a juventude, uma juventude que nós, muitas vezes, contristados, vemos ao redor de bares, em locais inadequados, porque não tem, realmente, onde praticar esportes. O esporte aeronáutico é, por excelência, uma atividade que realmente envolve todos aqueles que dela fazem parte, porque precisa de dedicação, precisa de estudo. E aqui, dentro de uma roda viva de entusiasmo, eu vejo que na atividade aeronáutica o pára-quedismo, e outras atividades que realmente exigem a participação efetiva do aluno, tem uma solução, quem sabe, para o combate a tantas coisas que existem hoje por aí, como por exemplo à droga. Os governos deveriam dar mais incentivo para que os jovens pudessem ter acesso às atividades aeronáuticas, aos aeroclubes, dando mais recursos, mais condições às aeronaves, para que pudessem chamar tantos e tantos jovens que não têm, que não tiveram oportunidades, que não souberam da importância, do valor que é a prática desse esporte. Eu, como pára-quedista, me recordo perfeitamente da satisfação que nós tínhamos, pois os melhores momentos da minha vida foram exatamente em cima de um avião, saltando, toda aquela atividade que nós desenvolvíamos antes, depois e durante os saltos.

Então, eu deixo aqui, em nome do PDS, o nosso abraço ao Aeroclube do Rio Grande do Sul e o nosso desejo muito forte de que o Aeroclube do Rio Grande do Sul continue sendo como tem sido até agora, esse exemplo de entidade prestadora de serviços aeronáuticos. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Ver. Clovis Ilgenfritz, que falará pelo Partido dos Trabalhadores.

 

O SR. CLOVIS ILGENFRITZ: Sr. Presidente, Ver. Omar Ferri; Exmo Sr. Miron Maciel, Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul; Exma Srª Vera Maciel, esposa do Presidente; vejo aqui alguns amigos antigos, o meu amigo Arquiteto José Guilherme Picolli. Não poderia deixar de falar em nome da Bancada do Partido dos Trabalhadores nesta Casa, somos oito Vereadores mais os Suplentes.

Acho que foi muito feliz a idéia do Ver. Omar Ferri ao propor esta Sessão, assim como foram felizes as palavras do Ver. Vicente Dutra ao colocar alguns dados que não vou repetir, porque são conhecidos de todos. Nós somos daqueles que entendem que as questões, os assuntos, os empreendimentos que são bem sucedidos, que são exemplares, devem ser ressaltados na situação do País em que vivemos, com tantas necessidades, com tantos tropeços, percalços, incertezas, inseguranças. A nossa visão é de que se deve homenagear, destacar, mostrar o exemplo daqueles que fazem as coisas bem feitas. Se isso é importante para nós como Partido, homenagear o Aeroclube do Rio Grande do Sul pelos serviços prestados ao Rio Grande do Sul, por outro lado, pessoalmente, tenho a honra e a satisfação de dizer que sou, também, piloto privado, só que um piloto muito antigo, um pouco defasado.

Mas assim como o Ver. Vicente Dutra, para mim, os meus melhores dias de jovem foram no Aeroclube de Passo Fundo. Fiz o curso de piloto privado lá e o exame aqui em Canoas, em 1957. Era bem jovem, com 17 anos, e guardo como um episódio, uma fase maravilhosa da minha vida. Eu e meu irmão Rubens, que hoje está na Presidência da Cotrijuí, fizemos um esforço muito grande, depois, para que em Ijuí tivesse um aeroclube, e acabou tendo. Mas o que sei, desde aquela época, é que os aeroclubes, para viverem, têm uma tarefa muito difícil, têm, via de regra. Tinham dificuldades enormes na época em que o combustível era mais barato, mais acessível, e os aeroclubes tinham muitos alunos. Hoje muita gente, seguramente, desiste porque o custo da hora, em função do custo do combustível, é, às vezes, para muita gente prejudicial. Mas mesmo com as dificuldades, a gente vê a entidade superando as crises, dando um exemplo a todo o Rio Grande do Sul e ao Brasil. Então, para nós é um motivo muito grande de satisfação trazer aqui o nosso abraço, em nome dos Vereadores do PT, dos nossos assessores, e felicitar, mais uma vez, a Direção do Aeroclube e o Ver. Omar Ferri por ter tido esta feliz idéia. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa convida o Ver. Clovis Ilgenfritz para que continue a presidir a Sessão enquanto este Vereador fará uso da tribuna.

 

O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Passamos a palavra ao Ver. Omar Ferri, proponente desta homenagem, que falará em seu nome e das Bancadas do PDT, do PTB, do PL e do PMDB.

 

O SR. OMAR FERRI: Exmo Sr. Presidente dos trabalhos, minhas senhoras, primeiro, uma confissão de minha parte: sou Vereador, vai fazer agora três anos no final do ano. Podem me acreditar que esta é a primeira vez que por solicitação minha é homenageada uma entidade do Rio Grande do Sul, para registrar o grande prazer e o alto grau de significação que emprestei hoje a esta solicitação.

Realmente, entendo que uma organização que desde a sua fundação formou tantos profissionais na área, tantos pilotos de tamanha capacidade, de tão grande relevância para este País, merece o aplauso, a louvação e a consideração de seus concidadãos, principalmente daqueles que numa Câmara de Vereadores representam o povo e a comunidade do Município de Porto Alegre. Uma entidade que ministrou aproximadamente cem mil horas de vôo, com uma extraordinária capacidade técnica, porque durante esses anos todos – vejam bem, este Aeroclube foi fundado há muitos anos, tem a minha idade, foi fundado em maio de 1933, alguns dias após eu ter nascido, porque nasci no dia 30 de abril de 1933 –, um ou outro raríssimo acidente ocorreu. Isso comprova a alta qualificação técnica e, além disso, o cuidado e a prudência daqueles que administram e que ministram as aulas técnicas, tão necessárias para a formação técnica, moral, ética e principalmente emocional de um piloto. Uma organização que recebe alunos de todo o Brasil, para o Rio Grande do Sul, para esta Cidade é uma honra. O alto nível do ensino e a segurança de vôo caracterizam perfeitamente, com muita distinção, essa escola de aeronáutica civil. Não vou me estender, pois os senhores mais do que eu conhecem o perfil dessa organização.

Tive o prazer de ser levado até ela pelo meu colega de profissão, praticamente colega de escritório, colega de faculdade, pessoa que muito admiro, um dos mais brilhantes advogados do Rio Grande do Sul, Dr. Plínio Bing, e foi com muita honra que atendi uma sugestão do Dr. Plínio para dar um discurso em homenagem ao Aeroclube, mas quando, de repente, tomei conhecimento do alto significado da organização, entendi que um discurso era muito pouco, e aceitei a proposição aprovada pela Câmara de Vereadores para que se fizesse uma homenagem em nome de todos os Partidos deste Legislativo ao Aeroclube do Rio Grande do Sul. E, de repente, dentro desta homenagem, reencontro pessoas notáveis, que já conhecia, muitos meus amigos, outros eu conhecia de nome, como é o caso do Desembargador Nério Letti, que depois responderá em nome da entidade, da instituição, esta manifestação da Casa Legislativa de Porto Alegre. O Dr. Balduíno Manica, desde o tempo em que era Juiz; hoje, para nossa honra, é um dos mais destacados desembargadores no conjunto dessas pessoas de alta cultura, com profundo conhecimento jurídico, que se constitui no conceito da magistratura rio-grandense, um dos seus expoentes. Trabalhei com ele desde o tempo em que era Juiz, em decisões no Tribunal, nas Câmaras Criminais, e é uma honra encontrar o Dr. Balduíno Manica nesta homenagem. Ao Comandante Miron Maciel, eu diria esta grande personalidade, e eu tive a honra, fui distinguido por convite para estar presente junto ao Comando Aéreo do Rio Grande do Sul quando V. Exª foi homenageado pelo 5º Comando, é uma honra para nós tê-lo aqui hoje, homenageando V. Exª e a entidade que V. Exª representa. Ao Sérgio Fraga, que é uma espécie de base administrativa para o funcionamento dessa entidade, e me uno a ele por laços familiares, o pai dele é íntimo amigo meu, além de ser primo de um cunhado.

Durante todas essas tratativas, foi bom conhecer o Jornalista Frederico, tão solícito, tão interessado em que esta solenidade fosse a melhor possível, bem destacada, como está sendo. Finalmente, quero agradecer a presença da Consulesa de Portugal, demais personalidades, De Carli, meu amigo, a ele me ligam as nossas carpas, que são comuns, homem de muita coragem, porque é um verdadeiro acrobata, talvez o único do Rio Grande do Sul, segundo as informações. Eu o revejo hoje com muita satisfação, para dizer, ao final, que o coroamento de tudo isso é termos aqui presente um Deputado Federal, que é o Deputado Carrion Júnior, que veio lá da distante Brasília representando um poder da República, um Parlamento que, nesta madrugada, disse ao Brasil que estava presente, punindo aqueles que se desviam e que não cumprem os seus ideais em elevadas expressões de espírito. Carrion, tu, que representas esse Parlamento da República, que se conduziu com tanta dignidade, é para nós um prazer recebê-lo nesta solenidade.

Ao Presidente do Aeroclube, aos Desembargadores, aos dirigentes, aos funcionários, aos Vereadores aqui presentes, que estão nos honrando na solenidade, o Ver. Vicente Dutra, o Ver. Clovis Ilgenfritz e aos meus amigos todos aqui, o meu grande abraço. Foi a única homenagem que este Vereador requereu, e com muita satisfação este Vereador requereu, e sente-se muito agradecido por ter feito alguma coisa de que o Rio Grande precisava tomar conhecimento. Um abraço e muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com muita honra devolvo a presidência da Mesa ao Ver. Omar Ferri.

 

O SR. PRESIDENTE (Omar Ferri): Em nome do Aeroclube, agradecerá esta homenagem o Desembargador Nério Letti, a quem esta presidência tem a máxima honra de conceder a palavra neste momento.

 

O SR. NÉRIO LETTI: Sr. Presidente da Casa Legislativa do povo porto-alegrense, Dr. Omar Ferri; Ilmo Sr. Hélio Miron Maciel, Comandante da Riosul, digno Presidente do Aeroclube do Rio Grande do Sul; demais autoridades e componentes da Mesa diretora dos trabalhos; ilustres representantes das autoridades aeronáuticas, Coronel Peres, nosso serviço de proteção ao vôo; Major Aloísio e demais autoridades aqui presentes; minhas senhoras, meus senhores. Para iniciar, invoco a proteção dos pioneiros, o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, o padre voador, o homem do aeróstato, do ar quente de 1709. Augusto Severo construiu o dirigível PAX que explodiu no vôo experimental sobre a Avenida Mainy, em 12 de maio de 1902, em Paris. Esse Augusto Severo fez várias experiências aeronáuticas no Rio de Janeiro. Alberto Santos Dumont nasceu em 20 de julho de 1873, na Fazenda Caxambu, em Palmira, Minas Gerais, hoje Santos Dumont, terra do nosso Presidente, e faleceu em 23 de julho de 1932, em Guarujá, Santos. Em 23 de outubro de 1906, Dia do Aviador, elevou-se ao ar em Paris com o 14-Bis, assombrando o mundo, inaugurando a aviação.

Nossa aviação começou com a missa militar francesa em 1919, no Campo dos Afonsos, e esta é a primeira grande vertente da aviação brasileira, a que já em 14 de novembro de 1927 fazia vôos regulares entre o Brasil e a Europa, com a mala postal. O industrial francês que residia no Brasil Marcel La Fonte construiu hangares, pistas, e apoiou os franceses da Companhia Geral Aero Espacialle, com vôos Rio de Janeiro-Buenos Aires, com inúmeras escalas nas praias, com os pilotos pioneiros Jean Marmoux, Leonard, Paul Rochet, Victor Han, Franz Murrat. Operavam três aviões Briguet, 14-Bis planos, e fundou-se no Brasil a Companhia Brasileira de Empreendimentos Aeronáuticos para auxiliar a Aero Espacialle dos franceses. Aqui no sul, o campo de pouso dos franceses era onde está hoje a Base Aérea de Canoas, e aí esteve, por várias vezes, Antoine de Saint-Exupéry, o poeta da aviação. Tão popular se tornou aquele campo de pouso que tinha um ônibus com o nome de Air-France, que saía do Mercado Público e se dirigia até onde está hoje a Base Aérea, que se popularizou entre a nossa gente porto-alegrense.

A segunda vertente da aviação nacional foi de origem alemã, do Condor Sindicat, que vai gerar a Cruzeiro, hoje incorporada à Varig. Era a luta franco-alemã, eternos rivais no Rio Reno pelas províncias da Alsácia e da Lorena, no Rhein, que vinham disputar o rico mercado e inexplorado campo aeronáutico da América do Sul. Porém, dessas duas vertentes européias, das duas potências eternas, Alemanha e França, e que hoje ressurgem das nacionalidades européias, por que é que a Alemanha até hoje é proibida de fabricar aviões, só fabrica planadores? Porém, de intermeio a essas duas vertentes surge o gênio americano, também visando o rico filão latino-americano. Um dos titãs americanos, Ralf O’Neil, destacado piloto Americano na I Guerra Mundial, fundou a NYRBA, sigla da empresa New York-Rio-Buenos Aires Airlines, e obteve a representação exclusiva para a América do Sul da Boeing Airplanes Company em 1927. Sonhava O’Neil, esse titã americano, fazer a ligação comercial Estados Unidos-Brasil. Entrevistou-se com o Ministro da Aviação e Obras Públicas, Dr. Vítor Konder, e com o Presidente da República, Washington Luís, e conseguiu com o Presidente da Argentina, Hipólito Iridjen, a integração aviatória Buenos Aires-Rio-Nova Iorque, e completou o acerto com o Presidente americano.

Com o progresso da NYRBA e seu desenvolvimento, a Panamerican Airways absorveu a NYRBA nos Estados Unidos devido ao fato de a NYRBA ter entrado em dificuldades financeiras, fruto da grande depressão da Bolsa de Valores de 1929, o crack de Wall Street, e a conseqüência no Brasil foi que a NYRBA mudou de nome e passou a ser a subsidiária da poderosa Panamerican, com o nome de Panair do Brasil, autorizada a funcionar pelo Decreto nº 19.417, de 21 de novembro de 1930. Não havia aeroportos, daí a necessidade de hidroaviões. E foram quatro aeroboats Circox S-38 que operavam com pilotos americanos da Força Aérea Naval, na linha Belém-Porto Alegre-Montevidéu. A linha de passageiros, Sr. Presidente, foi inaugurada em 02 de março de 1931, e levou cinco dias de viagem, com várias aterrissagens. Em 1933, iniciou-se uma verdadeira guerra entre a Panair, americana, subsidiária da Panamerican, o Sindicato Condor, alemão, e a Air France, francesa, para a conquista do mercado aéreo do interior do Brasil: Cuiabá, Corumbá, Campo Grande, Rio Branco e outras cidades, Manaus, Santarém, integrando o Brasil interiorano às areias quentes do litoral, vencendo a falta de comunicação, só feita através do avião, e hoje essa festa é a festa do avião. O primeiro piloto brasileiro da Panair foi o piloto aviador naval Coriolano Luiz Tonan. Em 1936, foi concluído o edifício sede no Rio de Janeiro, e o hangar de manutenção foi construído no Aeroporto Santos Dumont, ocupado pela Panair até 1965, ano em que foi extinta.

E surgem, Deputado Carrion, ilustre Ver. Omar Ferri, nos recantos deste Rio Grande, vozes que pretendem destruir uma das maiores organizações aviatórias que se construiu aqui no Rio Grande, que é a nossa Varig. E nós temos um compromisso de mantê-la íntegra, sob pena de fraudarmos a expectativa dos pioneiros, porque a história se repete.

E foi em meio a esse momento aviatório e à necessidade de formar pilotos que surgiu o Aeroclube do Rio Grande do Sul. Ciente, a Agência Rio-Grandense, da necessidade de ligar o Rio Grande do Sul ao Brasil e ao mundo para sair do isolamento, se voltaram para o avião. É que nossa estrada de ferro por Marcelino Ramos era deficiente para ligar com São Paulo e Rio de Janeiro, e rodovias inexistiam. Tudo era feito pelo mar e pelos rios, época áurea da navegação fluvial da bacia do Rio Guaíba. Sem dúvida, até hoje a maior obra de engenharia do Rio Grande do Sul foi a construção do Porto de Rio Grande, que abriu o Rio Grande do Sul ao Brasil e ao mundo, retirando o nosso Estado do isolamento e da ligação com o Prata, pois nós destinávamos os nossos filhos a estudarem em Montevidéu ou Buenos Aires. Tal construção do Porto de Rio Grande gera divergências entre Ramiro Barcellos e o chefe todo-poderoso do Governo e do Partido Republicano, Antônio Augusto Borges de Medeiros, que levou Ramiro a escrever o poemeto campestre Antônio Ximango, hoje obra clássica do cancioneiro popular folclórico gaúcho.

O Aeroclube do Rio Grande do Sul, fundado em 24 de maio de 1933, na Sociedade de Engenharia do Rio Grande do Sul, foi organizador e pioneiro o Capitão de Aviação do Exército Neto dos Reis. Presente à Sessão Solene de inauguração Rubem Berta, Otto Ernesto Meyer, Frank Sampaio, do Sindicato Condor, Buarque de Lima, o Dr. Vignolis, Carlos de Araújo Cunha, o Comandante Olavo Araújo, o Dr. Emílio Kempf, Carlos Maria Bins, Walter Point, Ernesto Becker, João Alves, Alfredo Corrêa Dautd, Francisco Ricaldone e tantos moços entusiastas dos anos 1930 dessa nossa querida mui leal e valerosa Porto Alegre. Em 08 de dezembro de 1937, o Capitão Miguel Lampert, Comandante da Base Aérea, entregou os dois primeiros aviões do Aeroclube, dois Muniz-7, de fabricação nacional e de tanta tradição, a Fábrica Muniz, lá do Galeão. Em 1940, foi construído o hangar de Canoas, onde ficou o Aeroclube até o dia 27 de novembro de 1979, quando se transferiu para Belém Novo, onde está até hoje.

O Curso de Formação de Instrutores é a viga mestra do Aeroclube. Já formamos inúmeras turmas de instrutores, e segue o principio que melhor piloto é aquele que na juventude ensinou a voar o mais novo. Hoje, funciona dentro do Aeroclube o Curso de Formação de Instrutores, criado pelo Instituto de Aviação Civil, disseminando eficiência e disciplina aeronáutica por este Brasil afora, através da nossa Escola Aeronáutica Civil, nos moldes e na eficiência da disciplina. Porque, como dizia Antoine de Saint-Exupéry, o piloto que cuida de seu avião como o jardineiro que poda a roseira realiza os próprios fins da aviação.

Em 1941, reunida a aviação do Exército e da Marinha, foi fundado e criado junto com o Departamento de Aviação Civil o Ministério da Aeronáutica, com Getúlio Vargas, e o primeiro Ministro da Aeronáutica, por paradoxal, foi um civil, um gaúcho ilustre, o grande Salgado Filho. O Correio Aéreo Nacional, o CAN, é de 1931, e a EMBRAER é de 1969. E o pressuposto básico da EMBRAER é o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, ITA, e o seu corolário, que é o Centro Tecnológico da Aeronáutica.

Enquanto isso, um fazendeiro de Bom Jesus, Evilásio Camargo, comprou um avião padrão G3, em 1927, em Buenos Aires, e ao trazer o avião houve uma pane em Jaguarão, onde ele ficou parado dois anos. E o piloto Sebastião Eder e o mecânico Mario Sirpa trouxeram o avião para as terras do Dr. Podalírio Machado, avô do Comandante Sérgio Fraga Machado, em Belém Novo, atrás de onde hoje está o Restaurante Pastoriza, em Belém Novo. E os pilotos Sebastião Eder e Franz Nueli faziam circulares, levando a mocidade de então, daí a tradição daquele local em Belém Novo, onde estamos formando pilotos para o Brasil.

Sr. Presidente, Ver. Omar Ferri, nós estamos dentro da Casa do Povo, o Legislativo Municipal, instituição básica para a realização do bem comum e garantia máxima dos direitos e garantias fundamentais do cidadão. O que ocorria nesta Casa, Sr. Presidente, em maio de 1933, quando se fundou o Aeroclube do Rio Grande do Sul? Presidia o Brasil o Sr. Getúlio Vargas, era Interventor deste Estado o General Antônio Flores da Cunha, e exercia a Prefeitura, com o nome de Intendente, o Major da Guarda Nacional Alberto Bins. Era uma quarta-feira, o tempo era bom, a temperatura amena e os ventos calmos. Dia próprio para voar, meus caros Coronéis presentes, céu de brigadeiro. Repercutiu e foi amplamente saudado nesta Casa que no Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Sul eram recebidos dois novos membros, em reunião na Bioblioteca Pública: Gaston Mazeron e Clemenciano Barnasque. E foram saudados no Instituto Histórico pelos historiadores Walter Spalding e o grande escritor gauchesco Alcides Maia, que está sendo redescoberto, agora, por Carlos Reverbel. Era Ministro da Fazenda o homem de Itaqui, não do Alegrete, Osvaldo Aranha. E discutia-se a viagem de Aranha aos Estados Unidos para tratar com o Presidente Franklin Roosevelt um empréstimo de rolamento da dívida externa do Brasil. Já naquele tempo, Aranha estava preocupado, e eis que a história se repete.

E foi amplamente saudado o feito histórico do aviador francês Jean Memot, que passou por Porto Alegre, na Air France, com o aparelho “Arc en Ciel”, que aterrou em Paris às 19h do dia 23 de maio de 1933, no Aeródromo Le Bouchet, provido de Grande Rei D’Aero. E uma grande massa do povo foi ao Le Bouchet, e autoridades saudaram o herói francês ao saltar na nasselle.

Construía-se e discutia-se, nesta Casa, no dia 24 de maio de 1933, a construção da faixa de cimento para São Leopoldo, Gravataí e Belém Novo, ligando Porto Alegre e ultrapassando os banhados que atolavam as carretas e os já incipientes automóveis. E, com isso, o Bairro Tristeza ficava ligado ao Centro e às barcas do Rio Guaíba, na Av. Pereira Passos, e, com isso, na travessia do Guaíba, ao sul do Estado. Assunto de amplo debate na Câmara, naquele dia, era a demolição de um prédio de verdadeira barreira, de propriedade de Gonçalo Henrique de Carvalho, na esquina da Borges de Medeiros com a Andrade Neves, para abrir definitivamente a Avenida Central. E o Prefeito Alberto Bins nomeou uma comissão composta dos Srs. Frederico Dane, Fernando de Azevedo Moura, Rodolfo Arendt e Otelo Rosa para dialogar com o renitente proprietário, que não permitia a demolição da barragem que fizeram em defesa de seu imóvel na já zona tão valorizada do Centro da Capital. Era o interesse privado querendo suplantar o interesse público, ali na esquina. Conseguiu a Câmara, após acalorado debate, que a Companhia Brasileira de Força Elétrica, com usina na Volta do Gasômetro junto à casa de correção, movida a carvão, que baixasse o preço do quilowatt, que era fornecido ao preço de mil réis, para 900 réis, com redução de 100 réis, conquista básica dos Conselheiros da época para os consumidores, em incentivo ao comércio e à indústria da Capital, que se impunha ao Brasil, a indústria rio-grandense de transformação.

E repercutia, entre os representantes do povo porto-alegrense, a apuração das eleições para Deputados Estaduais, Dr. Carrion, sob a presidência do Dr. Lair Guerra, em urnas de todo o Estado que tinham sido recolhidas para Porto Alegre, onde disputavam as cadeiras estaduais o Partido Republicano Liberal, da situação, a Frente Única, a Liga Pró-Estado Leigo e os denominados avulsos, eram os Partidos digladiantes que apresentaram candidatos à Assembléia Legislativa, naquela época furto do pleito que iria desembocar na Constituinte de 1935 e que é originada na Revolução Constitucionalista de 09 de julho de 1932, quando os paulistas se levantaram contra Getúlio Vargas exigindo que ele promulgasse uma Constituição. A Federal saiu em 1934, uma das Constituições mais democráticas que este Brasil já teve; alcançou nesta Casa viva sensação o imposto de 10%, instituído pelo Poder Municipal, por Alberto Bins, sobre as rendas dos jogos de futebol, denominado Imposto de Caridade.

No domingo anterior, Sr. Presidente, realizara-se um tremendo Gre-Nal no Moinhos de Vento com renda de 17 contos de réis, o que rendeu um imposto de um conto e 700 mil réis, porque era 10% que se cobrava sobre a renda líquida do arrecadado na bilheteria, lá na Baixada Tricolor, e a Câmara recebeu um ofício violento da Associação Metropolitana Gaúcha de Esportes Atléticos, mentora dos esportes e do futebol, para extinguir tão alto imposto, que é a origem da atual Federação Gaúcha de Futebol. Pedia a entidade esportiva a extinção, pura e simples, daquele imposto de 10%, eis que no próximo domingo – era uma quarta-feira – haveria um Gre-Cruz, Grêmio e Cruzeiro, pelo Campeonato Porto-Alegrense, no campo do Caminho do Meio, do Força e Luz, na Rua Alcides Cruz.

Compareceu à Câmara, naquele dia, o Dr. Raul de Plínio, da Diretoria de Higiene, convocado pela Casa do Povo. Aqui esteve o Dr. Raul de Plínio para falar sobre o surto de gripe na Capital e sobre o bacilo de koch, tuberculose, era o medo da gripe espanhola de 1919, a influenza que tantas mortes epidêmicas causou na nossa Cidade nos anos de 1919, e a população, na Câmara, estava apavorada com a possibilidade do surto epidêmico da gripe espanhola. Por isso Raul de Plínio, representante dos médicos, de um Sarmento Leito, de um Paoli e de tantos médicos famosos aqui compareceram, e, também, naquele dia, o Comandante da 3ª Região Militar, o General José Maria Franco Ferreira, que encaminhou cópia da Ordem do Dia sobre o 67º Aniversário da Batalha de Tuiuti, na Guerra do Paraguai, que consagrou Osório, porque era 24 de maio de 1865, e, na Ordem do Dia desta Casa havia, aqui, às 19h, uma retreta da Banda Municipal no Auditório Araújo Vianna, no então orfeão da Praça da Matriz, Orfeão Riograndense, que ficava à esquerda do Theatro São Pedro, lindo! De grata recordação a todos. Foi comunicada à Casa uma reunião dos produtores de leite no Passo da Mangueira, pois os Vereadores exigiam a tuberculinização do gado que fornecia leite à população de Porto Alegre. E um dos Vereadores clamava que o caminhão de quem quisesse participar sairia da frente da Câmara de Vereadores. Não era ônibus, era caminhão, Sr. Presidente, que levava os interessados até uma granja, ali no Passo da Mangueira, que seria a reunião dos produtores de leite para que melhorasse a qualidade e o produto tão importante para a alimentação, nesta Cidade. E, às 20h30min, dizia a Ordem do Dia, haveria um espetáculo no Theatro São Pedro com a Companhia Maria de Castro com a peça “A Datilógrafa”. E, às 19h30min, dizia um Vereador: “Espetáculo imperdível com a Companhia Teixeira Pinto, no Teatro Coliseu, com a peça ‘Perdão, Emília’, de Pierre Werber.” E reclamavam os Vereadores aos Conselheiros mais bondes elétricos, aos sábados e domingos, para atender à demanda de passageiros ao Hipódromo da Protetora do Turfe, no Moinhos de Vento. E, nos salões do Grande Hotel, realizou-se uma soirée dos acadêmicos de Direito da UFRGS, da Universidade Federal, Dr. Omar Ferri, que tantas recordações do velho André da Rocha, em homenagem à Miss Universo Iolanda Pereira, de Pelotas, e a Miss Universo foi saudada pela Senhorita Carmen Annes Dias. Também saudou-se nesta Câmara, no dia 24 de maio de 1933, os 20 anos de fundação do Esporte Clube São José, o Zequinha, tradicional, do Passo D’Areia, porque naquele dia o Zequinha fazia 20 anos de idade.

Era Porto Alegre da década de 1930, da Livraria do Globo, da Rua da Praia, do Largo dos Medeiros, das aventuras de Odone Greco. Quem nunca ouviu falar de Odone Greco? Reconstruir a sua imagem num livro saboroso de Maciel de Sá Junior, o anedotário da Rua da Praia. Os poetas da geração de intelectuais simbolistas, parnasianos, pós-modernistas, ficavam a fitar o pôr-do-sol na cerca de ferro que fechava a Praça da Harmonia junto ao Cais do Porto, ali em frente à esquina que dá acesso à Avenida Mauá.

E como estamos, Sr. Presidente, a falar de aviação, na tarde de 24 de maio de 1933, no dia de tantos acontecimentos tendentes ao bem comum que ocorreram nesta Casa, amerissaram no Rio Guaíba, na Rua Voluntários da Pátria, junto aos hangares, dois hidroaviões Comodoro da Panair. No dia seguinte, os dois hidroaviões partiriam um para Montevidéu, ao sul, e outro para o norte, até Belém, este fazendo conexão no Rio de Janeiro, eis que através do rápido transatlântico Júlio César, poderiam a mala postal, a carga e o passageiro chegar à Europa através do Transatlântico Júlio César. A sede da Panair ficava na Rua dos Andradas nº 1.227, e o Vereador, na época, dizia: “Comprem as suas passagens nos dois hidroaviões até as 17h de hoje, que ainda tem lugar.”.

Pois bem, após este discurso, que vai um pouco longo mas é pertinente, é a primeira vez que esta instituição, que representa o povo porto-alegrense, esta caixa de ressonância das aspirações e dos sonhos desses munícipes, realiza uma Sessão Solene a outra instituição, que é o Aeroclube, que desde que foi fundado, em 24 de maio de 1933, ininterruptamente, vem se dedicando à formação de pilotos, isto é, à transformação dos jovens na unidade rica e harmônica de um piloto. E é uma aspiração muito difícil de ser atingida, há toda uma sorte de limitações, se é formado com justiça ou com injustiça, se é bem formado ou mal formado. Quando um pai ou uma mãe busca o Aeroclube, entrega ao Maciel, ao Machado e aos instrutores daquele menino de 13, 14, 15 anos, um aeromodelista de 12 anos, que de preocupações, de angústias, de sentimentos, de perspectivas têm essas pessoas que recebem esse menino, essa menina para se tornarem praticamente responsáveis por várias horas do dia deste moço que está lá realizando a tarefa complementar do lar daqueles pais, daquela mãe, que aspira ver aquele menino bem formado e de caráter ótimo. Toda a atividade do Aeroclube é voltada para a produção do piloto, que não é uma mercadoria que se põe na prateleira, pois lidamos com vidas humanas, que não têm valor, que não se medem, pois este risco pode ser punido, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, através da disciplina e da observância rígida de princípios que regem a aviação e que estão sendo ensinados.

A diferença, pois, está entre um aeroclube ótimo e um aeroclube possível: o DAC, Departamento de Aviação Civil, quando criou o curso de formação de instrutores no ano de 1966, deu a alavanca para que os aeroclubes formassem seus instrutores, e o instrutor mais idoso, com mais experiência, passe a ensinar a arte da aviatória ao mais novo. Daí tolerar-se, em parte, o erro. E se reabria a todo o momento, através de posicionamentos não autoritários e da busca das retificações dos próprios resultados da inscrição aviatória. Temos a convicção de estarmos realizando o próprio dever e a própria missão, estamos sendo eficientes, temos certeza disso, e o poder do Aeroclube está no espírito de colméia, eis que todos obedecem como súditos mais humildes, pois criamos a alegria de criar, esta é a divina alegria de criar os pilotos, de projetar na vida a chama da vida que habita em todos os pilotos. Não há alegria maior do que formar um piloto, este é o produto do nosso Aeroclube, que é movido a emoção, a paixão e, sobretudo, pela juventude.

E trazemos à Casa do Povo de Porto Alegre a ressonância de todas as aspirações e sonhos que estamos, em Belém Novo, em nosso aeródromo, trabalhando diuturnamente na formação do piloto, ensinando a voar. E, em retribuição a esta homenagem solene, Sr. Presidente, ofertamos e solicitamos apoio para os nossos próximos passos, em busca do nosso próprio fim. Não viemos reivindicar, viemos aqui trazer trabalhos de muitos anos, de mais de cinco mil pilotos, e dizer a esta Casa, para que conste dos Anais, que é sonho plantado em terra fértil a formação de pilotos agrícolas com apoio da Faculdade de Agronomia da UFRGS, obedecidos todos os princípios ecológicos que lhe são necessários. O curso de formação de piloto de helicópteros e o curso para pilotos estrangeiros, que virão se formar aqui, porque nós temos condições de formar, barato e com eficiência, pilotos estrangeiros para qualquer país do mundo. Esta Casa tem a honra de ter em seu território de jurisdição uma formação de pilotos que não fazem feio na Alemanha, que não fazem feio no Japão, que não fazem feio nos Estados Unidos. É o gênio aviatório dessa gente rio-grandense. É o asfaltamento, o balisamento e a sinalização da pista de Belém Novo, dando chance definitiva ao vôo noturno e ao aumento de 30% das horas voadas.

Como nos anos 50 se fez a campanha nacional da aviação com Pignatari, Assis Chateaubriand, polêmico, discutido, mas declino esse nome com respeito, porque sem Assis Chateaubriand não teria tido a campanha nacional de aviação, e outros líderes da época. Com os Capes, os paulistinhas que serviram para formar todos os pilotos que hoje estão na fase de aposentadoria, e estamos hoje quase num sentido de dar uma volta num período de grande tecnologia, de grande avanço na cabine das grandes máquinas voadoras, formando pilotos em aviões argentinos, Aerobuero para instrução primária num sentido de integração Mercosul, em que o Brasil vende Tucano e eles nos enviam os Aerobueros, no mínimo 400, para disseminar pelo Brasil para instrução primária, para depois, então, passar a um Tupy, a um Corisco, fabricados pela nossa EMBRAER.

Por isso, com isso, em virtude disso, terminamos agradecendo à Câmara de Vereadores de Porto Alegre esta homenagem, com nossos sonhos, que são perfeitamente realizáveis, que se resumem na melhoria e no avanço da formação do piloto. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Para encerrar essa solenidade, tenho o prazer de passar a palavra ao Deputado Federal Carrion Júnior.

 

O SR. CARRION JÚNIOR: Nobre Ver. Omar Ferri, presidindo os trabalhos desta Sessão, nossos colegas parlamentares, Ver. Clovis Ilgenfritz e Ver. Vicente Dutra, nosso homenageado Aeroclube do Rio Grande do Sul, personificado com a presença do Comandante Maciel junto à nossa Mesa, se olharmos para nós mesmos, vamos ver que todo o Rio Grande do Sul está aqui. Está o nosso Poder Judiciário, que melhor não poderia estar representado do que pelo Desembargador Manica e pelo Desembargador Letti, que tivemos a honra e a satisfação de ouvir. Aqui está o nosso Poder Judiciário, o nosso Poder Legislativo, aqui estão as Forças Armadas, aqui está o nosso Poder Executivo, aqui estão os nossos Ministérios, estão os nossos empresários, estão aqui aqueles que representam o nosso órgão maior, a nossa Confederação, estão aqui presentes as mães dos nossos alunos, estão aqui presentes os nossos instrutores, estão aqui presentes os nossos alunos – e todos nós fomos, de alguma maneira –, está aqui representada a imprensa. Quem não está aqui representado?

Nesta oportunidade, devemos reconhecer que todos nós, aqui, estamos muito ligados à aviação. Cada um de nós tem um pedaço de aviação em si mesmo, seja um pedaço através de um tijolo, de uma construção, de uma obra, de uma tarefa, de uma missão que nos foi dada, seja a missão diretamente na atividade aviatória. Quero dizer ao Ver. Omar Ferri – há muito nos conhecemos – que nossos caminhos se cruzaram várias vezes, ele é um jurista, e ao ser um jurista é um homem da racionalidade, mas tenho certeza de que o combustível principal que move esse amigo que é o Ferri é o sentimento do coração. O combustível que o fez eleger nessa escolha privilegiada dessa homenagem, sem dúvida alguma, é aquilo que move, que ilumina e que cega, também, o nosso amigo Ferri, que é o seu coração. Sem dúvida alguma, essa homenagem não poderia ser melhor escolhida, porque aquele que além de porto-alegrense, ao morar na Zona Sul, tem, seguramente, uma responsabilidade muito grande para com o nosso Aeroclube, que hoje, sem dúvida alguma, dá uma nota, uma importância diferente à nossa Zona Sul de Porto Alegre.

Quero dizer a vocês que todos nós, de alguma maneira, somos colegas nessa vida de aviação, que conheço metade da vida do Aeroclube. Entrei pela primeira vez no Aeroclube em 1961, quando o Aeroclube já tinha metade da vida que tem hoje. Lá, praticamente, fiz todas as etapas: piloto privado, piloto de planador, piloto de acrobacia, nas mãos do Comandante Machado, até pára-quedismo, lá no próprio Aeroclube, e quero dizer que realmente vivi e lembro-me da época daquele nosso hangar grande, que já estava com grandes dificuldades de se manter já naquela época. Lembro-me daquela figura física inesquecível, que era o nosso Colombo, que tantas vezes empurrávamos para chegar aos nossos aviões e colocar o combustível. Aquelas figuras humanas, como a Raulina, como o nosso bar, como o Ernani. Todos nós, de alguma maneira, vinculamos a nossa vida ao dia-a-dia do Aeroclube. E lembro que tínhamos dificuldades em operar ali, porque ou eram as operações da Base Aérea que se sobrepunham à nossa reta final, ou era o trevo que se começava a construir e que impediria a própria operação do Aeroclube.

A luta que nós tivemos para ir para a Zona Sul, a dificuldade que a própria comunidade de Porto Alegre, a mesma comunidade que reagiu à construção da Borges de Medeiros, que reagiu de forma vigorosa contra a construção da Avenida Farrapos, que reagiu a tantas coisas e que continuará reagindo a tantas coisas. Se não reagir, quem sabe vai esquecer a sua história e preservar um pouco as suas coisas, mas ao reagir muitas vezes se opôs ao próprio progresso, e depois entendeu as coisas, onde até mesmo nós enfrentamos, na Zona Sul, algumas reações que foram superadas, foram compreendidas, e as reações fazem parte da nossa vida, até da nossa preservação. Na verdade, toda essa vida do Aeroclube nos mostra a importância que ele tem para todos nós, para a comunidade.

E eu não posso deixar de destacar alguns poucos aspectos que têm que ser destacados. Primeiro, por que o Aeroclube sobreviveu? Eu entrei em 1961; depois, me afastei; depois, fui para o Exterior; depois, voltei; agora, estou em Brasília, e o Aeroclube permanece crescendo, com a sua história e com a sua tradição de perfeccionismo. Por quê? Porque há no Aeroclube colegas nossos que jogam toda a sua vida, colegas nossos que não de hoje, mas também de hoje, jogam toda a sua vida no seu dia-a-dia. Seguramente, se eu tivesse que citar um, dois ou três nomes, citaria poucos. Nós temos aqui os nossos conselhos representados, mas eu diria que está aí aquele que personifica a nossa entidade: Comandante Maciel. Aqui, à minha esquerda, o Comandante Machado, que representa aquela linha de conduta do dia-a-dia, do mais difícil dos trabalhos, dos egressos, a esse tipo de trabalho, também, além de todos nós, que o Aeroclube é hoje o que nós poderíamos dizer. E não somos nós que dizemos, que somos do Aeroclube, é o Brasil que diz isso: a maior entidade civil aviatória do nosso País, em qualidade.

E o que mais? Ainda há poucos dias, quando nós encaminhávamos a questão do asfaltamento da nossa pista, balizamento e outras melhorias, dizia o Ministro da Aeronáutica: o Aeroclube do Rio Grande do Sul é e será, por excelência, o órgão civil que nós temos em nível nacional melhor representativo. Aqui me lembro de uma outra luta que nós tivemos, quando o Ministério da Aeronáutica queria nos absorver, e nós lutamos para manter a nossa identidade civil e a nossa identidade própria. Quantas lutas se passaram nessa história? A metade delas eu não conheço, mas outras pelo menos de alguma maneira eu conheci, e trago em mim, como cada um de nós. Sem dúvida alguma, quero dizer que neste momento nós temos a história, também, de personalidades, uma história que nós preservamos. Quando o Dr. Brizola estava, há um mês, lá no aeroviário entrando e sentando no TNF, aquele aviãozinho que ele fez o seu solo, quem diria que o Aeroclube do Rio Grande do Sul preservava aquele avião? Quantos prefixos que a gente não esquece, que eu não esqueço, quando entrei. O VXX, o GTC, com que às vezes eu solei, com que nós solamos!

Realmente, eu quero dizer a vocês que nossa história é uma história que teve dificuldades, como toda história, mas que teve grandes vitórias graças ao trabalho de todos nós, ao trabalho da nossa Cidade, ao apoio que a nossa Cidade tem dado, ao apoio que os nossos governos estaduais têm dado, ao apoio, sem dúvida alguma decisivo, até porque é um órgão maior, que a diretoria da aeronáutica civil tem prestado em toda essa história. Como foi citado aqui Chateaubriand, que teve um papel decisivo na história da aviação, na nossa história, e seguramente terá que continuar dando essa contribuição. Os nossos alunos, os nossos instrutores, que são aqueles que são diariamente coordenados pela batuta do Machado, ali no dia-a-dia levando a nossa atividade.

Ao encerrar, cumprimento todos que de alguma maneira participam do Aeroclube, mas cumprimento de forma específica essas diretorias que durante anos, entre as quais o Desembargador Letti, que aqui representeou o Aeroclube, bem colocou e bem tem contribuído no dia-a-dia da diretoria, como tantos outros companheiros que aqui estão conosco. Sem dúvida alguma, damos um exemplo para o Brasil, mostramos hoje para o Brasil a melhor escola de aviação civil que o País possui. Não só mostramos, mas temos esse reconhecimento.

Portanto, não é apenas um orgulho originado nas nossas convicções, mas é um orgulho que podemos trazer fruto do convencimento do nosso País. Dizer que realmente esta homenagem a que estou me juntando, modestamente, que não poderia deixar de estar presente, é uma homenagem que o Ver. Omar Ferri escolheu, privilegiou, como primeira iniciativa de Sessão Solene de homenagem. Quero cumprimentar a Diretoria do Aeroclube do Rio Grande do Sul, todos aqueles que junto conosco trabalham, também as nossas esposas, não só como esposas, mas como batalhadoras do Aeroclube no dia-a-dia. Aqui estamos todos juntos, reafirmando uma vitória que o Rio Grande do Sul teve, que é o Aeroclube do Rio Grande do Sul. Muito obrigado.

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Antes de encerrarmos esta Sessão Solene, vamos assistir à projeção de um vídeo que versa sobre as atividades do Aeroclube do Rio Grande do Sul.

 

(É projetado o vídeo.)

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, encerro a presente Sessão Solene.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h40min.)

 

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